Os Verdadeiros Heróis do Fim da Escravidão

57bdf4 60688ff289df402aa7c5ab025836e0c0 mv2

Ao parar para relembrar grandes momentos históricos que aconteceram no Brasil, uma série de conquistas surgem à memória. Certamente, uma delas é a Abolição da Escravatura, que completa 130 anos em 2018 e sua concretização é discutida com efervescência até hoje.

Geralmente, a versão que aprendemos da história é muito simplista quando tenta explicar todos os fenômenos sociais através da guerra de classes. Isso nos dá a falsa ideia de que sempre existe um grupo poderoso explorando um grupo oprimido. É irônico falar de escravidão e tentar romper essa lógica do “opressor/oprimido”, mas a verdade é que, na história de nosso país, um dos grupos que mais lutou para libertar os escravos, a classe mais baixa na hierarquia da época, foi a família com a maior classe hierárquica, a Família Imperial.

A Família Real e a escravidão no Brasil

O nosso Imperador, Dom Pedro II, e especialmente a sua filha, Princesa Isabel Leopoldina, se esforçaram por muito tempo para acabar com a prática desumana da escravidão, como era praticada aqui no Brasil. Antes mesmo da abolição ,a própria família real já não possuía pessoas escravizadas, apesar da prática continuar sendo difundida entre a aristocracia latifundiária brasileira.

Um outro destaque que podemos fazer acerca da família real e da escravidão é que, em 1871, a princesa conseguiu a aprovação na Câmara dos Deputados e assinou a Lei do Ventre Livre, lei que tornava livre todo filho de escravo, nascido a partir daquela data. Outras leis também foram entrando em vigor para reduzir a escravidão, até que, em 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel assinou a famosa Lei Áurea, que encerrava no Brasil a prática da posse e comércio de um ser humano por outro.

Claro que essa lei não agradou em nada àqueles cujos negócios dependiam do trabalho escravo. Consciente do movimento arriscado que havia feito ao assinar tal lei, a Princesa Isabel questionou a um amigo, o Barão de Cotegipe: “Então, Senhor barão, V. Excia. acha que foi acertada a adoção da lei que acabo de assinar?”. Ao que o barão, com muito carinho, respondeu: “Redimistes, sim, Alteza, uma raça, mas perdestes vosso trono…”.

Infelizmente para a Família Imperial o barão não estava errado. Já no ano seguinte, os grupos positivistas que eram, desde muito tempo, contra a monarquia, unidos aos grandes fazendeiros, conseguiram o apoio de parte do exército para aplicar o golpe político-militar de 15 de novembro, encerrando assim o período monárquico e proclamando a república no Brasil.

Qual benefício uma princesa teria em libertar um povo sofrido? Pelo o que a história conta, benefício nenhum. Muito pelo contrário, apenas prejuízos. Mas então, o que leva uma pessoa a tomar uma decisão que vai contra os seus interesses pessoais e de “classe”? Sem dúvida alguma, a nossa Princesa Isabel nos mostra que a história é feita por indivíduos dispostos a quaisquer sacrifícios pessoais, em nome de Grandes Ideais.

Quando seu esposo, o Conde D’Eu, na ocasião da assinatura da Lei Áurea, teve um momento de hesitação e disse: “Não o assine, Isabel. É o fim da monarquia”. A princesa católica respondeu: “Assiná-lo-ei, Gaston. Se agora não o fizer, talvez nunca mais tenhamos uma oportunidade tão propícia. O negro precisa de liberdade, assim como eu necessito satisfazer ao nosso Papa e nivelar o Brasil, moral e socialmente, aos demais países civilizados”.

Vale lembrar que o Brasil foi o último país das Américas a acabar com a escravidão e, sem dúvida, o que mais comercializou pessoas escravizadas entre os séculos XVI e XIX. O trabalho escravo era uma peça fundamental na engrenagem econômica brasileira, que dependia da monocultura agrícola como meio de geração de recursos. A chaga da escravidão, porém, não é marcante apenas no que tange à economia, mas também à cultura e a toda construção étnica e social do nosso país, e talvez por isso ainda esteja tão presente nos nossos costumes.

A família Real, principalmente na figura de D. Pedro II e Isabel, foram atores políticos importantes para combater a escravidão. Apesar de sua alta posição política, ainda assim não tinham poderes absolutos e necessitavam equilibrar os diferentes interesses do país em meio a busca pela libertação dos escravos.

Conheça mais sobre a história da Princesa no vídeo:

A discriminação racial: um problema do passado e do presente

Mesmo 130 anos depois, a questão da discriminação racial ainda é um assunto muito polêmico hoje em dia. Por mais absurdo que pareça, num país que talvez tenha o povo mais miscigenado do mundo, ainda existem casos de racismo. Para agravar a situação, parte da mídia e alguns grupos tendem a tratar este assunto de uma forma manipuladora, querendo forçar a ideia de que sempre existe uma guerra de “brancos vs negros”, por isso a questão acaba ficando cada vez mais complicada e difícil de lidar, e a solução cada vez mais distante.

Atualmente se volta a falar numa questão de identidade de raça, mas será que é possível formar uma identidade baseada na cor da pele? O que algo tão superficial como a cor da pele diz sobre a pessoa? É possível dizer algo sobre o caráter do indivíduo baseado nisso? Sabemos que a construção de uma identidade vai além do corpo e tange aspectos ainda mais profundos, como as nossas experiências de vida, nosso modo de lidar com traumas e prazeres e, acima de tudo, a autopercepção enquanto ser humano. É evidente que o racismo causa, sem dúvida, experiências dolorosas e marcantes, o que acaba por gerar uma identidade para quem sofre e também para quem pratica, mas não devemos buscar um meio de sublimar tais aspectos e vencer, de uma vez por todas, esse problema?

O mundo já teve experiências suficientes com conflitos ligados a questões de raças puras e afins. Se desejamos evoluir enquanto seres humanos, urge superarmos essa visão limitada de que a cor de pele, as crenças ou qualquer outra característica externa seja determinante nas relações sociais. Já está na hora de buscarmos a nossa identidade em valores mais profundos, que não estejam ligados a questões superficiais e que, de forma objetiva, nada dizem quanto à nossa verdadeira natureza humana. Precisamos entender qual é o nosso papel dentro da Humanidade, qual é a nossa Identidade Humana, independente de raça, sexo, condição social etc.

Unidade na diversidade: (re)descobrindo os heróis da abolição

A antiguidade filosófica comparava a Humanidade a um grande ser vivo, do qual cada ser humano seria uma célula. Podemos pensar então nas nações como órgãos deste corpo. Nos falta entender agora o que o Brasil, como um órgão, pode oferecer à Humanidade. E cada um de nós, como células, nos falta entender o que é verdadeiramente “ser Brasileiro”, como podemos colaborar com esta nação para que ela, por sua vez, cumpra com o seu papel na História. Precisamos resgatar a nossa Identidade Nacional.

O grande problema em nosso país é a falta de bons exemplos, não porque eles não existam, mas sim porque eles não são mostrados. Quem foram os grandes brasileiros da nossa história? Parece que existe um esforço para que esses personagens não sejam lembrados. Acabamos de citar o exemplo de nossa Princesa Isabel e também de seu pai, o Imperador Pedro II. Desde que nasceram, até os últimos dias de suas vidas, no exílio, eles sempre se consideraram “brasileiros” e reconheciam que seu dever como Família Imperial era o de lutar pelo bem de nossa pátria, independente das circunstâncias, sendo grandes exemplos de heróis nacionais.

Muitos outros personagens de nossa história merecem ser lembrados, mas nesse momento em que recordamos a libertação dos escravos no Brasil, é fundamental que façamos o resgate da memória daquele que era considerado o cérebro por trás da abolição, André Rebouças. Poderíamos começar falando sobre seus ancestrais escravos, ou enfatizando que ele era negro, mas, como dizia Martin Luther King, devemos julgar um homem não pela cor de sua pele, e sim pelo conteúdo de seu caráter.

Diremos então que André Rebouças foi engenheiro, astrônomo, professor, poeta e inventor, foi responsável por diversas obras no Brasil, como algumas vias férreas no sul do país. Ficou famoso por solucionar um problema de abastecimento de água na cidade do Rio de Janeiro, antiga capital do Império. Na Guerra do Paraguai, atuou como engenheiro militar, quando desenvolveu um torpedo que foi utilizado com sucesso.

Amigo próximo do Conde D’Eu e da Princesa Isabel, fazia parte de um núcleo de pessoas comprometidas com o desenvolvimento da nação não somente no aspecto material, mas principalmente no aspecto ético e humano. Repudiando o regime republicano que acabara de ser proclamado, decide ir para o exílio junto à Família Imperial. Sempre fiel, permanece em Cannes até a morte do Imperador Pedro II.

No vídeo abaixo, o Professor Paulo Cruz nos explica sobre a importância de André Rebouças na história do Brasil:

As histórias desses heróis nacionais nos mostram que as crenças limitantes, que nos separam em ricos e pobres, brancos e negros, homens e mulheres, são as piores correntes que existem, pois elas escravizam as nossas mentes. Quando percebermos isso, então seremos capazes de libertar a nossa visão para poder enxergar cada Ser Humano como um indivíduo único, que não pode ser definido somente em função de sua cor, sua religião ou sua classe social. Precisamos buscar uma consciência mais Humana, e não tingi-la de cores diferentes.

Sobre esta questão, o ator Morgan Freeman fez um comentário:

Um combate perpétuo

Não podemos negar que ainda hoje sofremos com a chaga do racismo. Em nossa história, ainda tentamos encontrar meios externos de minimizar os efeitos nefastos da política escravagista que dominou os primeiros 300 anos do nosso país, mas talvez a solução não seja a imposição de novas leis, regras e normas. No fundo, o problema do racismo perpassa nossa cultura e estrutura social, logo, um grande passo é educar as novas gerações a partir de uma visão de unidade e integralidade do ser humano. 

Não deixemos que o preconceito impere em nossa conduta social, seja consciente ou inconscientemente. É através de nossas ações que nos tornamos exemplo para as crianças e as futuras gerações que seguirão os passos que damos hoje. Isso não pode ser apenas uma teoria, mas uma forma de vida que expresse a empatia, a generosidade e uma maior consciência acerca da cooperação entre os seres humanos, independente de qualquer característica física ou psicológica.  

Se juntos formarmos um exército de homens e mulheres nobres, capazes de viver profundamente os valores de unidade dentro de nossa sociedade, será que o racismo não poderá ser, daqui a algumas gerações, apenas um capítulo perverso da nossa história, mas que ficou para trás? Esse é, sem dúvida, o nosso desejo, pois só assim poderemos avançar em questões ainda mais profundas e urgentes em nossa vida social. Não podemos perder esse combate, pois o reinado do preconceito já perdura demais em nossa nação. Que possamos vencer essa batalha pelo bem da humanidade!

Compartilhe com quem você quer o bem

MENU

Siga nossas redes sociais

Ouças nossa playlist enquanto navega pelo site.

Este site utiliza cookies para melhorar sua experiência, de acordo com a nossa Política de privacidade . Ao continuar navegando, você concorda com o uso de cookies.