Precisamos falar sobre a virtude da redenção

Você já parou para refletir sobre o valor da redenção? Essa virtude aparece geralmente em filmes, sempre expressa em um personagem que começa a história sendo “mau” ou que comete erros e, ao longo da narrativa, consegue superar a si mesmo e ajudar os demais. Quando essa reviravolta ocorre, como nos sentimos? Em geral, nos alegramos pelo desfecho positivo desse personagem, que consegue se redimir dos seus erros. Mas será que é possível vivermos essa mesma ideia todos os dias, na vida prática? Muitas vezes, podemos pensar que a redenção ocorre apenas com atos heroicos, dignos de um semideus ou de um ser que conseguiu superar seus piores defeitos e se tornou quase divino. Essa percepção, muitas vezes alimentada pelos próprios filmes, acaba nos afastando de uma forma mais objetiva de viver a redenção, e por isso esquecemos seu valor fundamental para a nossa vida. Hoje convidamos você, caro leitor, a aprender e aplicar a redenção em sua jornada.

Sobre a redenção, há uma antiga frase que nos fala o seguinte: “No Universo não existe perdão, apenas redenção.” Se em um primeiro momento essa nos parece ser uma sentença um tanto quanto dura, se pararmos para pensarmos em seu significado, perceberemos a sabedoria que há por detrás destas palavras. Primeiramente, devemos entender que não podemos voltar no tempo e consertar nossos erros antes que eles ocorram. Apesar de óbvio, muitas vezes os equívocos que cometemos acabam por nos paralisar, e nos torturamos psicologicamente por isso. Porém, essas atitudes não colaboram com a redenção, apenas evitam que essa virtude se manifeste. Assim, para o Universo não existe o perdão no seu sentido mais objetivo, ou seja, de esquecer ou relevar os erros cometidos, mas sim de consertá-los. 

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Se observarmos a natureza, por exemplo, perceberemos essa lei ocorrer com muita simplicidade. Quando um elemento externo, por exemplo, desequilibra o meio ambiente, o que acontece? Todos os seres afetados precisam se readaptar ao novo cenário, construir novas estratégias de sobrevivência para consertar aquilo que foi modificado. No mundo natural, esse é um meio de redenção, uma vez que precisam se adaptar para alcançar a salvação física de sua espécie. A própria etimologia da palavra redenção caminha nesse aspecto, uma vez que advém do latim redemptionis, que significa, precisamente, salvar-se ou salvação.

Visto isso, precisamos compreender como podemos aplicar essa virtude em nossas vidas. O primeiro passo, talvez, seja refletir sobre a própria ideia de salvação. Geralmente, devido a uma cultura religiosa, pensamos que a salvação, em sua última instância, está diretamente ligada a um aspecto divino, como se o próprio Deus fosse o único a poder nos salvar. Apesar de entendermos essa ideia, nosso objetivo é ampliar esse conceito para aproximá-lo do nosso dia a dia. Pensemos, portanto, no que nos parece fundamental salvar: nossas amizades, nossas relações familiares, nossas emoções, nossos ideais. Tudo isso nos parece válido de ser salvo, correto? Agora pensemos em nossas atitudes diárias – às vezes, mal planejadas – e em erros que cometemos, afinal, somos todos seres humanos. Tais acúmulos de equívocos podem desgastar relações, adoecer nossa psique e, muitas vezes, nos fazer abrir mão de nossos objetivos e aspirações. Considerando esses possíveis cenários cotidianos, não seria válido tentar aplicar a redenção para resgatar a nós mesmos desses aspectos inferiores?

Assim, a redenção não está em salvarmos o mundo, mas principalmente salvar aquilo que nos é fundamental, desde a nossa própria mente até mesmo as mais importantes relações que se desgastam ao longo do tempo. Redimir-se é, em grande medida, colocar-se à disposição do outro para reforçar laços e criar novos caminhos. É também aprender a cuidar melhor de si mesmo nos mais distintos aspectos, tanto físico como psicologicamente. Redimir-se, portanto, não é uma ação hercúlea, mas dar pequenos e constantes passos em direção a uma melhor condição de vida.

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Frente a isso, um ato de redenção é, por exemplo, superar as mágoas que acumulamos ao longo da vida, seja conosco mesmo ou com outras pessoas. Ao conseguirmos esse estágio inicial, estaremos aptos ao perdão, como o conhecemos em nossa cultura humana. Gandhi diz que “o perdão é uma característica dos fortes”, uma vez que para conseguir perdoar é preciso de redenção e, como podemos observar, essa não é uma atitude simples ou fácil. O mais cômodo é, infelizmente, ficarmos estagnados em nossa Zona de Conforto, assistindo a deterioração dos nossos mais importantes elos.

Nesse aspecto, se mostra comum a tendência de alimentar tudo o que nos fere, o que nos magoa. Como se supera algo que fazemos questão de reforçar todos os dias? É como esperar que uma ferida cicatrize expondo ela à contaminação todos os dias. E o esquecimento no meio disso tudo? Não estamos falando de uma perda de memória, mas apenas de relevar e não alimentar o que gera a mágoa. Costumamos lembrar as palavras exatas que nos foram ditas, os detalhes do dia, o tom de voz da pessoa, não é verdade? Há quem nunca esqueça de como foi magoado por um amigo, um companheiro ou mesmo um familiar. Arrastar essas mágoas em nossa psique é tão árduo quanto carregar um peso em nossas costas por uma longa trilha. Além disso, todas essas lembranças dificultam a superação da mágoa. Nesse caso, quanto maior o esquecimento dos detalhes, maior será a liberdade para perdoar.

No entanto, quando somos nós quem geramos a mágoa e sentimos culpa por alguma ação praticada de forma injusta, queremos dar um jeito de consertá-la, queremos nos redimir. A redenção, palavra muito pouco usada nos dias de hoje, é o ato de reparar uma ação feita previamente. Constantemente, magoamos as pessoas à nossa volta, mas com que frequência nos redimirmos dessas mágoas? Se redimir não está relacionado com voltar no tempo e fazer tudo de uma forma diferente, está relacionado com o momento presente: hoje, como posso, através da minha conduta, me redimir pelos erros que cometi? O nosso inconsciente não diferencia passado, presente e futuro; tudo acontece ao mesmo tempo. Quando sentimos culpa por algum erro do passado, é como se ainda estivéssemos cometendo-o no presente, pois esse sentimento nos acompanha. Por outro lado, se hoje faço um gesto de redenção por algo cometido há anos, este é um gesto válido, pois nosso inconsciente considera o valor do esforço e o mérito da ação, sem considerar o tempo em que foi feita.

Por isso, redenção e perdão andam juntos. Imagina quanto crescimento interior não há numa relação onde um se redime e o outro perdoa?

A necessidade de nos redimir pelos erros do passado nos impulsiona como um motor, nos faz movimentar com mais garra e intensidade em direção ao melhor que podemos ser como Ser Humano. Essa virtude nos dá força para conseguirmos melhorar e consertar os danos que causamos ao longo de nossa existência. É fato que o que foi feito no passado não pode ser mudado, mas todos os dias temos a oportunidade de fazermos escolhas diferentes, de colocarmos mais consciência em nossas ações para que assim sejamos capazes de viver com mais intensidade as experiências cotidianas. Nesse aspecto, podemos nos redimir a todo momento, desde uma palavra expressa com mais doçura até mesmo saldar dívidas – e não estamos falando de uma questão financeira aqui – com aqueles com quem nos comprometemos. É nesse momento que se apresenta a beleza da vida, que permite nos redimirmos todos os dias, a qualquer momento. Não podemos, portanto, desperdiçá-la. Que tal começar hoje mesmo a trabalhar a virtude da redenção? Porém, leve em conta que não precisamos salvar o mundo ou nem que sejamos salvos por alguém. No fim, dependemos apenas de nós mesmos para fazermos a diferença em nossa vida e no mundo. Não percamos essa oportunidade de sermos sempre melhores!

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