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Dia do Trabalhador

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O 1º de Maio é o dia do trabalhador, disso todos sabemos, mas essencialmente o que isso significa? Qual a história por trás? Como o 1º de Maio se relaciona com os ramos de atividade produtiva do nosso tempo, como coach, influencer, personais, CTO, etc.? Que reflexão devemos construir neste 1º de maio de 2020, em que a economia mundial encolhe a olhos vivos, mergulhando em uma recessão global sem precedentes? Como comemorar essa data dentro de uma conjuntura em que os que vivem do trabalho não podem trabalhar em razão da pandemia?

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Tudo começou na cidade de Chicago, no começo de maio de 1886, quando trabalhadores reivindicavam através de uma greve a redução da jornada de trabalho, que chegava a mais que o dobro do que trabalhamos hoje. Aqueles conflitos repercutiram no mundo inteiro, pois em todos os países industrializados haviam trabalhadores submetidos às mesmas condições: trabalho infantil, extensas jornadas, de dezesseis a dezoito horas por dia, sem direito a férias, sem garantia de aposentadoria, nem licença por doença, mão de obra barata, etc. A greve se intensificou, aí começaram a aparecer cadáveres, dos dois lados, trabalhadores mortos e policiais mortos, explosões de bombas, incêndios criminosos, suicídios e enforcamentos dos líderes grevistas no dia que ficou conhecido como Black Friday.

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Nesse contexto, com o objetivo de organizar movimentos semelhantes no mundo inteiro pela redução da jornada de trabalho para oito horas, organizações mundiais de trabalhadores resolveram instituir uma data que funcionasse como marco para que todos os trabalhadores do mundo parassem de trabalhar nesse dia em protesto contra essas condições. Assim, ficou instituído o dia 1º de maio em homenagem aos que morreram nos conflitos de Chicago. Depois de trinta anos do ocorrido, a Organização Internacional do Trabalho – OIT – determinou mediante convenção internacional, que a jornada de trabalho não poderia ultrapassar oito horas diárias. Nos Estados Unidos, o 1º de maio até hoje nunca foi reconhecido como feriado nacional, já no Brasil, o 1º de maio só passou a ser considerado a partir de 1925 e até hoje paramos nossas atividades nesse dia, mas a verdade é que fazemos isso mais por um automatismo que por algum tipo de idealismo.

Desde o que aconteceu em Chicago para cá, o mundo mudou muito, e muito depressa, tão depressa que já nem conseguimos nos dar conta conscientemente de tantas mudanças. As razões por trás da crise de Chicago são muito diferentes das razões por trás da problemática do trabalho hoje. Então, no dia primeiro de maio não devemos anacronicamente e nostalgicamente levantar as mesmas bandeiras levantadas em Chicago, devemos buscar um olhar sincero e profundo para o contexto atual, tentando entender nossas razões e definindo nossa posição atual.

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O trabalhador de hoje se vê assustado diante da ameaça do desemprego, a maioria mergulha na informalidade para sobreviver, tornam-se vendedores de toda sorte de coisas que se possam imaginar, começam a surgir “novas” profissões, como a figura do freelancer, que é uma pessoa que produz independentemente, é uma espécie de autoemprego, que projeta, executa, faz tudo e vive em busca de clientes, pois é daí que surge o seu sustento. Esse jeito de lidar com a produção já se avança por diversas áreas como tecnologia da informação, propaganda, designer, relações públicas, etc. O curioso é que esse termo é uma palavra inglesa que faz referência aos cavaleiros medievais que se colocavam a serviço dos nobres que lhe pagassem melhor para guerrear. Isso aponta para um ressurgimento de um conceito, é como se aquela ideia estivesse reencarnando no Século XXI.

Outra figura que emerge nesta quadra da história é o influencer, ou influenciador, é um tipo de atividade produtiva que surge com a ascensão das mídias sociais. O influenciador é um perfil famoso em alguma rede social, com muita credibilidade no segmento de mercado em que atua, e em razão disso tem um certo poder de influenciar outros usuários, ditar tendências, comportamentos, opiniões, e aí transforma esse poder em dinheiro. Se nas telinhas nós só vemos uma “pessoa normal” falando para uma câmera, por trás desses trabalhadores, vão se formando uma verdadeira indústria para a produção de vídeo, gerenciamento de mídias sociais, publicidade, tecnologia, maquiagem, etc.

Poderíamos citar também o segmento dos “personais”, que são aqueles trabalhadores que ganham a vida auxiliando outras pessoas em atividades específicas. O mais conhecido é o personal trainer, é aquele cujo serviço é auxiliar na educação física, geralmente atendem em academias de malhação, hidroginástica, etc. Mas dentro desse ramo há uma diversidade de personais: tem o personal stylist, o personal organizer, o personal chef, o personal wine, etc. E tem outros novos ramos de atividade produtiva que vão ganhando força como coach, e-comerce, telemedicina, educação à distância, mobile marketing, CTO (chief technical officer), e essa expansão não termina tão cedo.

Nesse sentido, somos essencialmente outra sociedade, não dá para tratar o primeiro de maio com o mesmo estetismo romântico do começo do Século XX. Nossos problemas são de outra ordem, lá havia duas classes bem definidas: os donos dos meios de produção e os que faziam o processo produtivo acontecer. Aqui, todos lutam vorazmente para se manter de pé, é como se essas classes entrassem em um enorme liquidificador e se diluíssem. Lá, a causa imediata das greves era redução de jornada; aqui, esses novos trabalhadores não localizam seus problemas exatamente na jornada de trabalho mas vivem correndo para aumentar sua carga de trabalho.

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Com o surgimento da pandemia do coronavírus, essa sociedade líquida começa a entrar em um acirramento ainda maior de sua condição, em razão da recessão econômica mundial sem precedentes. Esta sociedade recém-emergente de um processo em que o trabalhador foi se tornando pouco a pouco um auto-trabalhador, independente de patrão e de Estado, agora se vê diante de uma situação em que por um período não poderá trabalhar. O que fazer?

Nesse momento, o 1º de maio precisa ter outro significado, precisamos ver neste dia uma chamada para uma reflexão sobre a ressignificação do trabalho. A atividade produtiva precisa de um novo significado, em que a colaboração mútua se sobreponha à competição sórdida; em que o consumo precise ser racionalizado, não dá para consumir por consumir. Precisaremos nos reinventar. Temos que redescobrir a essência do trabalho, precisamos enxergar que o motor do trabalho não é o lucro, mas a transformação do próprio homem. Talvez seja a hora de encontrarmos uma motivação no nosso trabalho, que não seja somente ligada ao nosso benefício pessoal, mas sim ao benefício do Todo. Trabalhamos porque quando produzimos, através desse ato produtivo, algo sai de nós e passa a fazer parte do mundo, e assim, com essa distância necessária podemos ver a nós mesmos no objeto produzido, o que nos leva a um despertar de autoconsciência.

O trabalho leva um pouco de “humanidade” para a natureza, à medida que algo do homem fica na sua produção. E também emancipa a consciência, já que o homem que produz consegue se enxergar melhor no resultado do trabalho que foi feito. Temos que trabalhar motivados por isso, e não pelo lucro, pois este estará prejudicado. Nossa sobrevivência terá que vir da colaboração, do repartimento justo, da partilha e da atuação inteligente visando o todo e não somente a parte. Se a única coisa que nos motiva a trabalhar é o lucro, nesse momento cairemos na inércia ou na barbárie, mas se despertarmos em nós o verdadeiro motor ao trabalho, que é o autoconhecimento e a liberdade, esse será o momento que mais trabalharemos, e será pelas razões certas.

Se fizermos isso, podemos estar dentro de uma grande oportunidade: a de participarmos de um dos momentos mais transformadores que esta civilização já viveu em toda a sua história. Então… já pensou sobre qual é a sua parte nesta história?

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