A Revolução Francesa foi um dos movimentos mais importantes e complexos da nossa história. A França vivia tantas contradições, tantas crises e tanto sofrimento que é até difícil explicar de forma simples o que foi a Revolução Francesa sem negligenciar algum ponto importante que pode mudar completamente a nossa opinião. Mesmo assim tentaremos fazer um resumo de forma breve.
Em 1789 a população francesa era dividida basicamente entre aqueles que trabalhavam e aqueles que gastavam. O clero e a nobreza tinham vidas muito luxuosas e de muito conforto, sustentados pela pesada carga tributária imposta à população que muito trabalhava, e que muitas vezes acabava vivendo em situação de fome e miséria. Nessas condições de “temperatura e pressão”, uma tentativa por parte do clero e da monarquia de aumentarem ainda mais os impostos sobre a população, foi a faísca que acendeu um pavio que explodiria aquela sociedade mudando completamente todas as peças de lugar.
Depois disso, os movimentos revolucionários começaram a enfrentar o regime absolutista do Rei Luís XVI, o que acabou pondo um fim a monarquia, iniciando uma república e submetendo o clero ao poder desse novo estado. A bandeira da França assumiu as suas cores atuais, de listras azul, branca e vermelha, representando os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade desta nova era. O rei foi guilhotinado e os demais integrantes da família real foram presos ou exilados.
É impossível não se compadecer da população francesa e entender o motivo de tamanha revolta. Mas até que ponto podemos justificar a violência de uma reação? Sem dúvidas, o rei era em grande parte responsável pelos graves problemas da França. Mas é justo estender esses castigos aos seus familiares? Aos seus filhos? Ainda que sejam crianças?
Após a execução de Luís XIV, os defensores da monarquia proclamaram o garoto Luís Carlos, de 7 anos, como o novo rei da França, porém um rei que nunca chegou a reinar. Na prisão, ele foi separado de sua mãe, Maria Antonieta, sofreu torturas físicas e psicológicas, foi embriagado e forçado a assinar um documento em que acusava sua mãe de tê-lo iniciado em práticas masturbatórias e incestuosas. Tal documento foi utilizado como “prova” para condenar Maria Antonieta a guilhotina. Ao que tudo indica, tais condições subumanas levaram o garoto a contrair uma tuberculose, que lhe causou a morte aos 10 anos de idade. Isso tudo foi feito em nome da Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
E o pior da Revolução Francesa ainda estava por vir, quando o revolucionário radical Maximilien de Robespierre assume a liderança do Comitê de Salvação Pública, e inicia uma verdadeira caçada a todos os opositores do atual regime. Esse período ficou conhecido como Reino do Terror. Diariamente as pessoas eram guilhotinadas em praça pública por terem cometido crimes, por participarem de movimentos contra o atual governo, ou simplesmente por serem revolucionários moderados de mais para os critérios de Robespierre. Em nome da Liberdade, Igualdade e Fraternidade cerca de 40 mil pessoas perderam suas cabeças.
Por escutarmos a história através da boca daqueles que promoveram a Revolução Francesa, sempre que pensamos nela nos lembramos de seu lema “Liberté, égalité, fraternité” e daquele belo quadro de Eugène Delacroix, “A Liberdade Guiando o Povo”. Talvez, se pudéssemos escutar as vozes daqueles que foram guilhotinados, as suas versões não seriam tão belas e heróicas.
O objetivo aqui não é fazer uma explicação com detalhes históricos, e nem mesmo apontar qual é o lado certo e o lado errado, mas sim propor que façamos uma reflexão sobre como, muitas vezes, julgamos as coisas somente pelo seu “slogan”, sem compreender bem o que ela são de verdade.
No fim das contas, é impossível saber se, no saldo final, o mundo se tornou um lugar melhor ou pior por causa da Revolução Francesa, mas o que nos resta é dar vida a esses ideais que, ainda que tenham sido muito manchados de sangue, não deixam de ser valores importantes para todo ser humano. Todos somos irmãos dentro de uma mesma família chamada “Humanidade”, por isso todo ser humano tem a Liberdade de viver a sua vida de acordo com suas convicções, todos vivemos numa Igualdade de dignidade e, acima de tudo, jamais devemos deixar de cultivar a Fraternidade entre todas as pessoas. Mas, para evitar os erros do passado, que façamos uma revolução interior. Que esses ideais transformem a nossa vida, a nossa intimidade, a nossa relação com as pessoas, ou seja, que transformem a nossa forma de pensar, de sentir e de agir. Somente assim poderemos trazer uma mudança verdadeira para a Humanidade e, quem sabe, no futuro, esse slogan que é apenas um sonho, possa se tornar a realidade em todo o mundo.